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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Igreja de Nossa Senhora da Purificação - Vila do Porto - Santa Maria




Sob a invocação de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da vila, data do início do século XV, constituindo-se numa das igrejas mais antigas do arquipélago. É largamente referida por Gaspar Frutuoso e, modernamente, a sua história encontra-se em trabalho do Dr. Manuel Monteiro Velho Arruda.2 Foi cabeça da Comenda de Nossa Senhora da Assunção.

Foram seus benfeitores João Tomé, o "Amo" e o Ouvidor Rui Fernandes, escudeiros do capitão do donatário e vereadores da municipalidade, nomeados por Gaspar Frutuoso como "lavradores e homens principais da terra". As suas obras foram iniciadas em 1439, a cargo do pedreiro Estevão Ponte e do carpinteiro João Roiz (Rodrigues). Frutuoso informa que o primeiro arrematou a obra por trezentos mil-réis, e Roiz, de Vila Franca do Campo, terá recebido "de noventa a cem mil-réis". Primitivamente a igreja só dispunha de uma porta no frontespicio. Em meados  do século XVI já possuía sete confrarias. Frutuoso assim a descreveu:

"A igreja principal é da invocação da Assunção de Nossa Senhora (por se achar no mesmo dia a Ilha), de naves, com quatro pilares em vão, e muito bem assombrada, com um Altar do apóstolo São Matias, que é o padroeiro de toda a Ilha, da banda do evangelho, e outro de Nossa Senhora do Rosário, da parte da epístola. Tem também duas capelas, uma da banda do sul, que mandou fazer Duarte Nunes Velho, com altar de Jesus; a outra, de Rui Fernandes de Alpoim, com o altar de Santa Catarina."

Por determinação de Filipe II de Portugal, o exclusivo do púlpito desta igreja foi dado aos franciscanos da vila. O pregador do Convento da Igreja de Nossa Senhora da Vitória tinha a obrigação de fazer 24 sermões por ano naquele púlpito, recebendo, por isso, três moios de trigo e 10$000 réis em espécie. O corpo eclesiástico de que dispunha era muito numeroso, recebendo bons proventos no século XVIII.

A igreja foi profanada e destruída por corsários franceses (agosto de 1576) e ingleses (1599), tendo sido incendiada por piratas da Barbária em 1616.7 Nesta última terá servido como mesquita. 

Foi reparada pela Câmara Municipal em 1630, mas faltaram, à época, recursos para a telha. 

Após vários apelos ao soberano, apenas em 1659 um pequeno auxilio foi conseguido. A imagem da Virgem foi devolvida ao seu nicho, ao centro do altar-mor em 1674, por iniciativa do então bispo da Diocese de Angra, D. Lourenço de Castro.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Igreja de São Salvador (Horta)



A Igreja Matriz de São Salvador localiza-se na freguesia da Matriz, na cidade e concelho da Horta, na ilha do Faial, nos Açores. Pertenceu, outrora, ao Colégio dos Jesuítas da Horta.

A sua construção deveu-se à intervenção do padre Luís Lopes, primeiro reitor do Colégio dos Jesuíta de Ponta Delgada que, em 1635, foi forçado por um temporal a aportar ao Faial, quando se dirigia à ilha de São Miguel. O fato vem narrado na obra do padre António Franco publicada em 1720, onde também se regista que o Colégio dos Jesuítas da Horta foi erguido a expensas de Francisco de Utra de Quadros e de sua esposa, Isabel da Silveira.

De acordo com o historiador faialense António Lourenço da Silveira Macedo esta igreja, sob a invocação de São Salvador, começou a ser construída em 1680, dois anos depois de se conseguir a provisão-régia que permitiu a importação de todo o material necessário. As obras do convento começariam apenas em 1719.

No contexto da expulsão dos jesuítas do reino de Portugal (1759), à data da saída destes religiosos do Faial (1 de agosto de 1760) a igreja ainda não estava concluída. Nela já encontravam, entretanto, a talha dourada do altar-mor, a riquíssima capela da Senhora da Boa Morte, com as suas telas, os painéis de azulejos da capela-mor, a grande lâmpada de prata, o sumptuoso arcaz de pau-santo na sacristia, a custódia de bronze prateado, a estante giratória do coro, com finos embutidos de marfim representando passagens do Evangelho, o frontal de prata em estilo renascentista do antigo altar do Santíssimo, e diversas outras preciosidades, que hoje constituem o seu espólio.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Igreja do Colégio - Ponta Delgada




A Igreja de Todos-os-Santos, melhor conhecida como Igreja do Colégio dos Jesuítas de Ponta Delgada, localiza-se no centro histórico da cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores.

O lançamento da pedra fundamental do primitivo templo, ocorreu em 1 de Dezembro de 1592, dia de Todos-os-Santos pelo calendário católico então em voga, na presença do governador, Gonçalo Vaz Coutinho.

Juntamente com o templo, deu-se início ao convento anexo, pelos religiosos da Companhia de Jesus, que ali estabeleceriam o seu Colégio na cidade. Ordinariamente, residiam no convento de 10 a 16 religiosos ligados às funções docentes.

A igreja foi reconstruída na primeira metade do século XVII, quando adquiriu a actual fisionomia. Os trabalhos iniciaram-se em 1637, sendo o actual frontispício adoçado ao anterior. Entre 1643 e 1646 foi instalado o novo retábulo na capela-mor. A nova fachada foi concluída em 1666.

Nesta igreja pregou o padre António Vieira, por ocasião da festa da Santa Teresa de Jesus, no dia 15 de Outubro de 1654.

Com a expulsão da Companhia do reino de Portugal, à época Pombalina, o valioso recheio da igreja foi dispersado. Era na biblioteca do Colégio que se encontravam importantes documentos da história dos Açores, como por exemplo, o acervo de Gaspar Frutuoso, inclusive o manuscrito das Saudades da Terra.

Encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 39 175, de 17 de Abril de 1953.

domingo, 12 de maio de 2013

Igreja de São Roque (Ilha do Pico)




A Igreja de São Roque é um templo católico português localizado na freguesia de São Roque do Pico, concelho de São Roque do Pico, na ilha açoriana do Pico.

Esta é a segunda igreja matriz da vila de São Roque do Pico, vila cuja criação remonta ao ano de 1542. A primitiva igreja data de tempo anterior a 1480, pois segundo diz Silveira Macedo nos registos paroquiais, consta que Rodrigo Alvares e sua mulher Isabel da Luz foram os fundadores da Capela do Bom Jesus na primitiva igreja, em 1480, instituindo, em seu testamento, um vinculo de suas terças. Todavia, Isabel da Luz, sobrevivendo a seu marido, acabaria por alterar aquela disposição.

Em 1714, quando começaram a construir o novo templo, o capitão Manuel F. de Melo, que era administrador daquele vínculo, foi obrigado pelo visitador eclesiástico a mandar reconstruir a referida capela no novo templo, o que cumpriu, enterrando-se nela desde então todos os administradores do mesmo vínculo.

Diz-se que a capela-mor, um primor de talha dourada, foi mandada construir pelo rei D. João V de Portugal, que para ela ofereceu uma lâmpada de prata.

Em 1871, o padre Marcelino de Oliveira Serpa reparou todos os altares. Consta ainda que os sinos foram oferta de um administrador do aludido vínculo.

Existe ainda neste templo um Ambão com embutidos de marfim, obra de um frade do Convento de São Francisco da cidade da Horta, semelhante à que se encontra na Sé Catedral de Angra do Heroísmo.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Igreja de São José - Ponta Delgada








A primitiva igreja no local, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, remonta ao século XVI e pertencia ao Mosteiro da Ordem de São Francisco.


O actual templo foi iniciado em 1709.


Encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº 39.175, de 17 de Abril de 1953.

O templo, de grandes dimensões, apresenta uma fachada simples mas imponente, dominada pela portada. O interior consiste de três naves com arcos pintados, com os altares decorados em talha dourada. Destacam-se ainda os painéis de azulejos datados do século XVIII (azuis e brancos).

Encontra-se decorado com estátuas dos séculos XVII e XVIII, de influência hispano-americana. Na sacristia destaca-se o mobiliário barroco em jacarandá.

Ao lado direito da Igreja encontra-se a Capela de Nossa Senhora das Dores, cujas janelas são consideradas um dos mais representativos exemplos do estilo barroco de São Miguel.

Eu - Myself


quarta-feira, 8 de maio de 2013

O Culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres



O culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres tomou impulso a partir dos séculos XVII e XVIII, dentro dos princípios adoptados pela Igreja Católica no Concílio de Trento, no sentido da defesa da importância do culto e da adoração de imagens, um dos princípios de divergência em relação à Reforma protestante.

Deve-se à irmã Teresa da Anunciada o actual culto ao Senhor Santo Cristo. Esta religiosa deu entrada no Convento da Esperança no século XVII, juntamente com uma sua irmã, Joana de Santo António. De origem nobre e de personalidade forte, a profunda devoção que a irmã Anunciada alimentava, e as suas características de santidade, fizeram com que fosse comumente tratada como "Madre", cargo que, na realidade, nunca desempenhou.

Desde que deu entrada no convento, Teresa da Anunciada adoptou uma atitude de profunda devoção e entrega à antiga imagem do "Ecce Homo", com a qual estabeleceu uma íntima relação e à qual chamava carinhosamente de "seu Senhor" e "seu Fidalgo".

As duas irmãs terão tido a sua atenção despertada, e terão despertado a da população em geral, para o carácter milagroso da imagem. Joana de Santo António, antes de ser transferida para o Convento de Santo André, terá alertado nomeadamente para o poder milagroso de uma estampa que cobria a abertura do peito da imagem.

Teresa da Anunciada não se poupou a esforços para engrandecer a imagem do "Ecce Homo", apelando à vassalagem e entrega por parte de todos à mesma. Embora com entraves por parte de uma abadessa do convento, conseguiu que se erigisse uma capela condigna para a imagem, assim como que a imagem fosse ornada com todas as insígnias próprias de majestade. 

Para esses fins, contou com as esmolas de inúmeros crentes em toda a ilha, do reino e mesmo das colónias, assim como o apoio da própria Coroa. Pedro II de Portugal, por alvará de 2 de Setembro de 1700, concedeu uma tença de 12.000 réis para manter constantemente acesa uma lâmpada de azeite diante do altar do Senhor Santo Cristo. Foi ainda a irmã Anunciada quem organizou e instituiu a procissão anual do Senhor Santo Cristo dos Milagres, com o apoio e a colaboração da população.

Na actualidade, quando das festas em honra do Senhor Santo Cristo, uma multidão acorre ao Campo de São Francisco e ao Convento da Esperança que, por esta altura, assumem o papel de santuário, numa manifestação de profunda devoção, fé e respeito. Além de se prestar homenagem à imagem do Senhor, são pagas as promessas feitas.

Ao longo do restante do ano, a imagem encontra-se guardada numa capela do convento, localizada em frente e em sentido oposto ao altar-mor da igreja, separada da nave por um gradeamento.

O Senhor Santo Cristo dos Milagres


O Senhor Santo Cristo dos Milagres, popularmente referido apenas como Senhor Santo Cristo ou Santo Cristo dos Milagres, é uma peça de arte sacra cultuada no Convento de Nossa Senhora da Esperança, na cidade e concelho de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores.

Trata-se de uma imagem entalhada em madeira sob a forma de relicário/sacrário,1 de autor desconhecido, em estilo renascentista, representando o "Ecce Homo", isto é o episódio do martírio de Jesus Cristo em que este é apresentado à multidão, na varanda do Pretório, acabado de flagelar, de punhos atados e torso despido, com a coroa de espinhos e os ombros cobertos pelo manto púrpura.

O evento está narrado em Lucas 23:1-25, no episódio maior da Corte de Pilatos. O autor representou, com grande senso artístico, o contraste entre a violência infligida ao corpo de Cristo (matéria) e a serenidade do rosto, nomeadamente do olhar (espírito).

As festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres realizam-se nos dias em torno do quinto domingo após a Páscoa, dia em que se procede à grande procissão, terminando na quinta-feira da Ascensão. 

Constituem a maior e mais antiga devoção que se realiza no país, e que só encontra paralelo com a devoção popular expressa no Santuário da Mãe Soberana, em Loulé, e, a partir do século XX, nas celebrações em honra de Nossa Senhora de Fátima. A devoção atrai, anualmente, milhares de açorianos e seus descendentes, de todas as ilhas e do exterior, uma vez que é um momento escolhido por muitos emigrantes para visitarem a sua terra natal.


Antecedentes

A documentação disponível atribui ao Papa Paulo III (1534-1549) a oferta da imagem a religiosas que se terão deslocado a Roma no sentido de obter uma Bula pontifícia que as autorizasse a instalar o primeiro convento da ilha de São Miguel, na Caloura ou no Vale de Cabaços. Contudo, do confronto de diversos documentos levanta-se a hipótese de tal doação poder ser atribuída ao seu antecessor, o Papa Clemente VII (1523-1534).

Em virtude do Convento da Caloura, erguido sobre um rochedo à beira-mar, se encontrar demasiado exposto aos ataques de piratas e corsários, então abundantes nas águas do arquipélago, cedo as religiosas ter-se-ão transferido para outros estabelecimentos religiosos, entretanto constituídos na ilha: o Convento de Santo André, em Vila Franca do Campo, e o Convento de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada. Entre as que a este último se dirigiram, refere-se o nome de Madre Inês de Santa Iria, uma religiosa oriunda da Galiza, que levou consigo a imagem do "Ecce Homo" (1541), que lá permanece até aos nossos dias.

Igreja do Senhor Santo Cristo - Ponta Delgada


A Igreja do Santo Cristo, ou de Nossa Senhora da Esperança , encontra-se integrada no conjunto conventual da Esperança, no coração da deslumbrante cidade de Ponta Delgada, na maravilhosa Ilha de São Miguel, no Arquipélago dos Açores.

O Convento e a Igreja datam do século XVI, tendo sofrido alterações posteriores nos séculos XVII e XVIII, albergando a famosa Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, apresentando um fabuloso conjunto de adereços em ouro e pedras preciosas do século XVIII, e associada à maior festividade da cidade.

Diz-se que as primeiras freiras que habitaram o Convento trouxeram esta imagem, que terá sido ofertada pelo Papa Paulo III às freiras que foram a Roma solicitar a bula de instituição do Convento de Vale de Cabaços, cerca de 1530.

A Igreja apresenta um rico interior, profusamente decorado de talha dourada, pinturas de Manuel Pinheiro Moreira e azulejaria do século XVIII e outra mais recente.

O Convento da Esperança é também conhecido por ter sido no muro exterior da sua cerca, num banco de jardim assinalado por uma âncora, que em 1891 se suicidou o poeta Antero de Quental.

terça-feira, 7 de maio de 2013

eu ( Myself)


A origem da devoção à Senhora dos Milagres - Serreta - Ilha Terceira


A origem da devoção à Senhora dos Milagres na Serreta remonta aos finais do século XVII, quando o padre Isidro Fagundes Machado (1651–1701) se considerou vítima de injusta perseguição e se refugiou no local chamado Queimado, na região da actual Serreta. 

Ali, então um dos mais remotos trechos da ilha, ergueu, em cumprimento de um voto, uma pequena ermida, na qual colocou uma pequena imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus (a actual imagem de Nossa Senhora dos Milagres). Pedro de Merelim dá a seguinte versão da lenda que passou a rodear a origem do culto:

"Um padre velhinho, boa e santa alma, vendo-se em grande atribulação e desiludido do mundo, procurou um lugar ermo, onde, sem mais ninguém, se pudesse entregar à contemplação das verdades eternas.

Seduziu-o a Serreta, junta da rocha, a uma boa légua da igreja. Sítio tranquilo e pitoresco, paisagens de arvoredos e fragas, bem próprio para escutar as vozes da natureza entoando um hino à criação – e aí se quedou. Estaríamos no século XVI. 

Levava consigo uma pequena imagem da Virgem, para a qual, por suas mãos, imperitas no ofício, edificou tosca capelinha, na Canada das Vinhas, Queimado, em reconhecimento do milagre que lhe fizera de o livrar do perigo. E o minúsculo templo serviu-lhe também de abrigo. As preclaras virtudes do venerando sacerdote tiveram o condão de, ao lugar da Serreta, levar subido número de pessoas. 

Morto o humilde e solitário clérigo, a singela ermidinha ficou abandonada, breve se arruinando. Outra se ergueu em local diferente. E esta segunda, igualmente carecida de assistência, além de sujeita às irreverências de alguns pseudo-romeiros, não terá oferecido por muito tempo as condições indispensáveis ao culto, pelo que o prelado mandou recolher a imagem da Senhora dos Milagres à paroquial de Doze Ribeiras."

Neste novo domicílio, a fama da imagem continuou a atrair considerável devoção, passando a ser popularmente designada como Nossa Senhora dos Milagres em resultado dos milagres que eram atribuídos à sua intercessão.

Igreja de Nossa Senhora dos Milagres (Serreta)



O primeiro compromisso para a construção de uma igreja na Serreta data de 13 de Setembro de 1772, quando os irmãos da Confraria dos Escravos de Nossa Senhora se congregaram nas Doze Ribeiras, em casa do vice-vigário Miguel Coelho, para realizar a festa daquele ano. Assentaram na ocasião que se deveria proceder à reedificação da antiga ermida da Virgem, no lugar próprio da Serreta, ficando o padre Rogério José da Silva encarregue do património e os irmãos com a obrigação de contribuírem para a obra. Dando o exemplo, o então capitão-general dos Açores, D. Antão de Almada, abriu a subscrição doando 50$000 réis do seu bolso.

Contudo, apesar do voto solene e da presença de tão ilustres benfeitores, as obras da igreja não arrancaram e, em 1797, decorrido um quarto de século da formulação do voto, nada se fizera. Bernardino José de Sena Freitas afirma:

"Por motivos que nos são ignotos ainda vinte e cinco anos depois daquela deliberação não estava reedificada a ermida, conservando-se a imagem da Senhora dos Milagres na igreja de S. Jorge: e até parece que ou esta devoção esfriara, ou a solenidade esteve interrupta por alguns anos; pois no citado livro desta Irmandade não encontrámos assentos posteriores ao ano de 1782; até que no ano de 1797 se acha um outro voto, não só revalidando o primeiro para perpetuidade da festa anual, começada em 1764, mas obrigando-se os novos irmãos ao cumprimento do assento exarado em 1772, para que de feito se levantasse uma nova ermida na Serreta para nela ser venerada a Senhora dos Milagres."

Este novo fervor parece ter sido suscitado pelos ecos da Revolução Francesa e pela nascente ameaça napoleónica, que prenunciava um clima de guerra na Europa. A nível local, este enquadramento político traduzira-se na determinação para que o capitão-general dos Açores procedesse ao recrutamento de 5 000 jovens açorianos para reforçar o exército real, incumbindo-se desse destacamento o sargento-mor de artilharia da Corte Maximiliano Augusto Chermont. Este recrutamento, que espalhou o receio e a consternação nas ilhas, foi justificado pela rainha D. Maria I de Portugal, em carta datada de 31 de Outubro de 1796 e dirigida ao bispo e outras entidades oficiais, com a necessidade de "conservar ilesa a dignidade do meu real trono, e salvar os meus fiéis vassalos do risco, a que podem ficar sujeitas as suas vidas e propriedades". Entretanto, nem os temores da população e nem o envolvimento da nobreza angrense lograram o cumprimento do voto, e a construção da igreja da Serreta continuou por arrancar.

A obra apenas foi principiada em 1819, por iniciativa do general Francisco António de Araújo, então nomeado capitão-general dos Açores, que para além da devoção à Senhora dos Milagres se apercebeu que o crescimento populacional do lugar exigia templo próprio. Lançada solenemente a primeira pedra, as paredes começaram a ser erguidas, estando a obra em curso quando o mandato daquele capitão-general foi dado por terminado na sequência da nomeação de Francisco de Borja Garção Stockler e da Revolução Liberal do Porto (1820). A instabilidade política que se seguiu levou à paralisação da obra, que permaneceu inacabada durante todo o período da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834).

Finalmente, depois de tantos contratempos, José Silvestre Ribeiro, administrador do recém-criado Distrito de Angra do Heroísmo, assumiu a necessidade de se concluir a nova igreja, reiniciando as obras, custeadas com donativos e as esmolas vindos de todos os recantos terceirenses.

O templo, o terceiro na Serreta consagrado à Senhora dos Milagres, ficou concluído em 1842, recebendo a imagem venerada após mais de um século de permanência na igreja de São Jorge das Doze Ribeiras. Para tal, José Silvestre Ribeiro oficiou ao cónego Manuel Correia de Ávila, ouvidor eclesiástico de Angra, para se proceder à abertura ao culto da nova igreja. Sem alçada para decidir, o ouvidor enviou o pedido ao bispo D. Frei Estêvão de Jesus Maria, então residente na ilha de São Miguel devido ao seu apoio aos miguelistas durante a guerra civil, que assentiu.

A bênção da nova igreja e a solene transladação da imagem realizaram-se a 10 de Setembro daquele mesmo ano. A cerimónia foi presidida pelo cónego Manuel Correia de Ávila. Segundo um testemunho da época, "Jamais no meio de tanto sossego e prazer se praticou um acto tão solene e tão pomposo. Milhares de pessoas concorreram de todas as partes da ilha àquele lugar". O ponto alto foi a celebração da primeira missa, "que vários curiosos cantaram a vozes e instrumentos", estando presentes o governador civil José Silvestre Ribeiro e demais autoridades e pessoas de representação.

O novo templo, localizado no largo onde hoje se situa o Império do Divino Espírito Santo da Serreta, do lado oposto da estrada em relação à actual igreja, era de proporções modestas, com fachada virada para leste (para terra) e torre à direita provida de dois sinos. No interior tinha uma só nave, duas sacristias e outras tantas tribunas, uma das quais à direita do altar-mor e outra sobre o guarda-vento.

Aberta a igreja, culto à Senhora dos Milagres cresceu rapidamente, passando a atrair à Serreta grande número de forasteiros, nos quais se incluía a melhor burguesia angrense, que, em carros de bois e carroças, se deslocava até à localidade, hospedando-se nas casas ali existentes. Em consequência, para além da vertente religiosa, as festas ganharam uma parte profana que, naturalmente, incluía uma toirada à corda. A primeira realizou-se na segunda-feira, 10 de Setembro de 1849, em complemento do programa religioso e por iniciativa do mordomo daquele ano, o fidalgo João Pereira Forjaz de Lacerda. A tradição das festas terem um mordomo da aristocracia angrense, que as fazia a expensas suas, no espírito do voto de Escravos de Nossa Senhora, perdurou pelo menos até ao ano de 1868, em que foi mordomo o morgado João de Bettencourt Correia e Ávila, depois 1.º visconde de Bettencourt.

Procissão da Serreta - Ilha Terceira

Romaria na ilha São Miguel, Açores

sábado, 4 de maio de 2013

Eu ( Myself )


Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe (Agualva)




A Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe localiza-se na freguesia da Agualva, concelho da Praia da Vitória, na ilha Terceira, nos Açores. Está compreendida no Inventário do Património Histórico e Religioso da Praia da Vitória.

O actual templo foi erguido no século XX, sobre outro, mais antigo, cuja data de fundação se afirma remontar a 1594. FRUTUOSO, entretanto, ao referir a rendição das forças francesas, na sequência da conquista e saque de Angra pelas forças Castelhanas no Verão de 1583, refere:

"Neste meio, os franceses, com seu geral, mossior de Xatra [sic], estavam a três léguas da cidade de Angra, atrincheirados nos moinhos da Agualva, na faldra daqueles matos acima da igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, em sítio forte, bem fortificado, onde tinham água e outras comodidades, (...)."


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Igreja de S. Sebastião de Ponta Delgada

Foi em Ponta Delgada, que D.Manuel I fez Vila em 1499 e D.João III elevou a cidade, por alvará de 2-4-1546, - por acto régio singular porque não era sede de bispado -, admitia-se, em 1515, a substituição da pequena Igreja situada no espaço mais amplo da Praça de então que, irregular, projecta faixa até ao edifício municipal, entre dois arruamentos. Iniciativa da Câmara Municipal, poucos e vagos são os documentos sobre a construção da nova Igreja paroquial, que é a Matriz evocada a S. Sebastião.

O risco da planta talvez tenha sido de um desconhecido mestre Lupedo, a quem coube a primeira empreitada da obra, para o qual enviou de Lisboa, próximo daquele ano, a pedraria calcária para os portais e colunas, assim como quem por ele os fosse aparelhando. Certo é que foram os canteiros reinóis irmãos Nicolau e André Fernandes os executantes daquelas estruturas, porventura também os responsáveis pelas demais cantarias da campanha original do edifício, cujo o ano de começo não é possível precisar.

Todavia sendo prática a construção de uma Igreja a partir da cabeceira, é admissível situar-lhe o principio próximo do ano 1530, antes porém, de 1533, data da nova empreitada arrematada por outros mestres, responsáveis pelos trabalhos de alvenaria e de carpintaria.

Para os paroquiais dos Açores, as despesas com as capelas-mores, sacristias, alfaias e outros objectos indispensáveis ao culto, eram de obrigação régia desde o reinado de D. Manuel (1495-1521) porque, sendo duque de Beja antes de subir ao trono tinha por herança henriquina do pai, o governo da Ordem de Cristo. Quanto ao corpo, elas corriam pelos paroquianos. Assim sendo, em 1532 D.João III encomendou os convenientes apetrechos liturgicos, concedeu verba, distribuída por quatro anos, para ajuda da obra e autorizou a Câmara da então Vila a aplicar na construção, a partir do ano seguinte e até 1545 – ano de conclusão desta Igreja -, parte do rendimento da imposição que cobrasse.

A arquitectura desta Igreja Matriz de S Sebastião de Ponta Delgada, realizada no referido período do reinado Joanino e actualmente possível de observar e admitir – por entre acrescentos e alterações – foi de cabeceira de três capelas quadrangulares diferentemente escalonadas, em que a capela-mor comunicava com as suas laterais através de amplo vão de volta perfeita suportada por colunelos. De moldura basáltica, estrutural e decorativamente diferentes, o par foi aberto no que constitui o cruzeiro do falso transepto contido nos limites dos absidiolos correspondentes à capelas do Santíssimo e à capela da Senhora do Rosário.

É por esse espaço transversal, assim inscrito que esta paroquial de S Sebastião – com a sua congénere da Terceira –pode ser admitida de planta em cruz latina, com corpo rectangular dividido em três naves e sete tramos por oito pares de colunas, cujos os fustes cilíndricos, talhados em pedra lioz e assentes em bases de mármore emolduradas inferiormente, foram rematados por capitéis de forma campanulada invertida, do mesmo material, com decoração classicizante. São suporte da arcaria plena sobre que se eleva, acima das naves laterais o segundo plano da central, rasgado por cinco pares de frestas. Irregulares relativamente aos cânones tradicionais de posicionamento, as do lado sul têm motivos decorativos góticos exteriores, de pedra local; moldura clássica as do alçado oposto. No tempo desta campanha de obras, houve encomendadores particulares que foram autorizados a construir capelas profundas nas naves laterais, para prestígio familiar permanente.

Na do norte, a que hoje é evocada a S Pedro, cujo o espaço tem porta para a primeira sacristia de encargo régio. Na do Sul, a sua fronteira dedicada ao Coração de Jesus, ambas abrindo para o tramo que entesta com o falso transepto. No interior assim admitido – e possível de comprovar – a Matriz de Ponta Delgada teve o corpo com cobertura de madeira. Foi prática comum nacional, que do Gótico severo medieval teve persistência quinhentista, em contraste com a complexidade do sistema estrutural e decorativo aplicado às cabeceiras. Ainda visível na Capela mor, cujo o arco cruzeiro – como os vãos das suas laterais – foi aberto na largura da respectiva nave, é de abóbada rebaixada de pedra, em dois panos arteseados com nervuras de desenho duplo estrelado de quatro pontas e quadrifólios centrais ao jeito de trevo de quatro folhas, de que os feixes segmentares – independentes dos tramos, com arcos formeiros quebrados nos alçados – rompem de mísulas (há pouco renovadas). Por complemento decorativo e funcional, teve florões no eixo principal e bocetos nos cruzamentos artesoados (também refeitos não há muito).

Por coerência, os absidíolos terão sido parte do mesmo tipo de abóbadas, de que nenhum vestígio nos chegou mas que logrou manter-se nas ditas capelas de fundação particular. Nelas a recuperação dos arcos exteriores trilobados e suas arquivoltas, apoiadas por colunelos assentes em envasamentos de composição geométricas, com intradorso de floralismos, visivelmente massacrados, não sendo modelo de interpretação correcta das formas nem do restaura executado, foi, contudo, acto de cultura e defesa, patrimonial do actual pároco, alargado quanto possível a outros espaços e estruturas: abóbadas também rebaixadas, mas de um só pano artesoado e nervuradas em composição de tratamento escultórico distinto. Libertos dos adventícios revestimentos de madeira e gessos pintados, com pequenas douraduras, que na segunda parte do século XIX as abastardaram, estas capelas afirmam-se informativas do que foi o vocabulário decorativo interior em articulação com a gramática arquitectónica original desta Igreja de S Sebastião de P Delgada.

Quanto ao exterior quinhentista, é possível que o frontispício tivesse sido rematado em empena de bico unificador das três naves. Tipologicamente afim, nomeadamente do da alentejana S João de Moura (1502-1510) ou do das Ribatejanas Matriz da Golegã (1513-1520) e Senhora da Marvila, em Santarém, foi de um só portal, virado para poente; outro, em cada alçado lateral do corpo. De mármore o principal e o do lado sul, ao do norte coube o basalto. Para iluminação, a frontaria terá tido três óculos, ao nível das respectivas naves. Em 1545, é possível que já estivesse edificada, ou quase, a torre do relógio, adjacente ao alçado norte da abside, obra determinada dois anos antes, ao custo de 30$000 réis, enquanto a dos sinos, anexa à extrema sul do frontispício, de secção quadrada e calabre de pedra a demarcar a áerea sineira, com eirado de balaústres arrestados por remate, foi obra da responsabilidade de diversos mestres pedreiros e várias vezes interrompida, só sendo concluída cerca de 1624, em tempo do rei Filipe II de Portugal, III de Espanha.

A janela de saída, manietada por coluneto toscano, aberta na face sul desta alta torre e encimada pelas armas reais coroadas, é documento esclarecedor de se estar sob gosto estético maneirista. É que o programa da Matriz de Ponta Delgada, executado a partir de finais do primeiro terço do século XVI e até antes que findassem os meados, pela simplificação da planta, organização da cabeceira e do corpo, volumetria das massas, sistemas de cobertura, iluminação e decorativismo integra-se na evolução dominante das Igrejas nacionais de três naves – com progenitura nos cânones góticos das mendicantes – construídas a partir dos começos do reinado de D Manuel I e até grande parte do de D João III, ainda que neste já em coexistência e com a ceitação de formulário arquitectónico do Renascimento Italiano.

É, pois espacial e estruturalmente arquitectura do Gótico final nacionalizado, em que por isso mesmo, no interior, a maior elevação da nave central não anulou valor de horizontalidade, favorecido pelas proporções e arcaria do primeiro nível, também pelo rebaixamento de abóbadas. A composição da cobertura interior da capela mor lembra o modelo realizado na da catedral de Braga (1509); as outras citadas, nas suas variantes são abóbadas comuns a numerosas Igrejas portuguesas, com extensão às Ilhas: a de S Pedro, por exemplo, identifica-se com o desenho da capela-mor da matriz de Azambuja e da S João da Cruz, em Coimbra; já em território Castelhano é visível no claustro de S Estêvão de Salamanca. A do coração de Jesus tem presença na da Vila da Ega (Distrito de Coimbra), no coro alto da Igreja do Convento de Cristo em Tomar, nos absidíolos e capelas laterais da paroquial de S Sebastião da Terceira, sem que se esgotem os exemplares conhecidos.

Contudo, é nos portais quinhentistas que o Manuelino tem a sua expressão mais elaborada e exuberante, pela diversidade, de estruturas e temas decorativos de proveniência vária. No do frontispício – central actual -, o amplo vão de arco abatido tem desenho , até ao intradorso, de hexágonos túrgidos, ao modo de entrelaçados angulosos pela sobreposição de três colunelos, motivo decorativo com referente no pórtico monumental e janelas da fachada sul da Igreja conventual de Santa Maria de Belém, de Lisboa.

Os contrafortes assentes em envasamento de geometrismo compósito, que se elevam como agulhas de esguios pináculos góticos flamejantes muito acima de estreito nicho renascentista, são os limites de toda a composição. Desenvolvida em profundidade, a justaposição de dois colunelos define-lhe trióbolo superior, de que o arco médio, em querena lanceolada, se destaca dos segmentos de arco pleno terminados por estilizada maçaroca de milho.

Em contraponto, adoça-se ao alçado a irradiação de elementos ornados de vegetalismos esculpidos, também de tradição gótica. Naturalismo de troncos nodosos serve ao conipial topo de outros nichos que abrigam o baixo relevo de anjos apresentando folha desenrolada que tem desenvolvimento sob forma de fustes torsos, de que rompem botões floridos, e são suporte de mais nichos de adopção renascentista. Situando-se à sombra do trilóbulo, temas decorativos de fonte tardo-gótica internacionalizada informam ainda o pórtico principal: anjos alados esvoaçantes, sem a presença de estátua do santo padroeiro, lembrando, porém, por iconografia heráldica, no tímpano oposto ao que tem a pedra de armas reais Joanina. De outro apuro é o portal transversal sul. Mainelado pela elegância de coluna gótica espiralada, arco abatido, de moldura repetida, unifica os dois vãos de volta perfeita que cobrem trióbolo.

Pares de colunelos clássicos laterais, a que os interiores dão continuidade às arquivoltas, definem intercolúnios e intradorsos com ritmo continuo de relevos renascentistas, plateresca mente esculpidos, onde há figuras exóticas, jarros bojudos floridos e mais motivos diversos. Um par de medalhões, lado a lado, são figurações retratistas de homem e mulher de alta estripe, em bustos de alto relevo e iconologia controversa, ainda que se possa admitir representação das pessoas régias contemporâneas da edificação da Igreja. Por sobreposição de elementos do mesmo tipo, o seu remate lembra o de portal principal, assim como os contrafortes que o demarcam. Menos animada foi a organização do da fachada norte, a que não coube o mármore dos atrás referidos, mas tão-somente a pedra escura local. Nem por isso deixa de ser harmonioso, na simplificação que ele toma da parte exterior do portal de D Duarte, no mosteiro da Batalha, atribuído a Mateus Fernandes e datável de 1509. Em datas desconhecidas, mas previsivelmente depois de meados do século XVI, foram introduzidas duas capelas, a primeira das quais, no tramo anterior à de S Pedro e, fronteira a ela, na nave sul, a que contemporaneamente teve dedicação ao Senhor dos passos e antes fora dedicada à Senhora da Glória ou da Assunção, por decisão testamentária de 1572, com vista a nela o encomendador ser sepultado, com lápide de pedra e brasão de família gravado, o que no seu espaço já não existe.

Ambas já foram recuperadas dos revestimentos chinfrins oitocentistas, permitindo conhecer; Na da nave norte, o arco de volta inteira do seu acesso, assim como abobada de cruzaria estrelada quadrangular e angulosa, de desenho afim, nomeadamente, do da capela-mor da matriz de Góis e da Igreja de S Marcos (Distrito de Coimbra). Na sua oposta, espacial e estruturalmente renascentista, o mesmo tipo de arco mas sobre pilastras com capiteis de lombo arredondado; a cúpula de semiesférica reticulada elevando-se de tambor oitavado, com pendentes em cada ângulo do plano cúbico e lanternim rasgado de frestas emergindo do cento. Um outro acrescento, mais tardio, foi no tramo da nave norte, sob o coro, a capela das almas, que antigamente servia de baptistério em tempos não distantes, com pilastras, extradorso e intradorso do arco redondo compartimentados por almofadas de pedra. Por isso e pela cúpula de quatro panos arestados exteriormente, com lanternim cego e cruz sobreposta que a distingue será, porventura, de um século XVII avançado, em que no ano de 1670 o adro da Igreja foi finalmente murado no lado sul, com nove dependências. Aludiu-se, já, ter havido intervenções no século XVIII.

De entre elas, a sacristia de há muito em mau estado de conservação, foi em 1722 a 26 reconstruída e, pouco depois, renovada de paramentos e alfaias, aplicando-se-lhe nas paredes painéis de azulejos, que antes da capela mor já recebera e que o século XIX deu sumiço. Foi tempo de introdução de talha barroca. Em estilo nacional o retábulo principal e ao gosto Joanino, a que o entalhador André de Fontes executou para decoração do arco cruzeiro, cuja a ultima prestação lhe foi paga em 1750. Entretanto arruinada que estava a torre do relógio, o Munícipe não entendeu melhor solução, senão determinar, em 1723, a sua demolição. Um modo de ver assim o património que vulnerou esta Igreja Matriz quinhentista que infelizmente teve continuidade em mais desatinos. De modo particular, a decisão do visitador, de 1726, de um novo frontispício e elevação dos alçados laterais até ao nível da nave central, acções sobre que insistiu o de 1729, acrescidas de outras que vitimaram os tectos da cabeceira e das naves.

Em síntese, telhado de águas no corpo da Igreja, com emparedamento das frestas, substituídas por feias janelas, o que na década de 1960 voltou à organização primitiva, mantendo-se no entanto, a frontaria setecentista. Esquema, no tempo, de arcaizante retábulo maneirista, introduziram-lhe, porém, portais de moldura barroca, ladeando o pórtico manuelino, janelas com colunelos de aproximação pseudo-salomónica e aletas contracurvadas e espiraladas a debruar o remate superior. Assim afirma-se a obra híbrida, em que a pretendida animação barroca, aplicada à justaposição caligráfica dos espaços repartidos e chãos, se mistura, igualmente com a gramática e vocabulário estrutural e decorativo do pórtico original. Esta infeliz campanha de obras, quando reinava D João V, consumou-se assim na descaracterização arquitectónica manuelina na maior cidade açoriana. No século XIX constitucional, a partir da década de 1870 e até entrada a centúria seguinte, notáveis membros da confraria do Santíssimo, acordados com a Juntas de Paróquia de então, teceram o que chamaram plano de melhoramento e reparo, principalmente para embelezamento interior.

Abundam madeiramentos e engessaduras pintadas e douradas, marmorizações e quejandos emblemas de gosto chinfrim desta elite social. Das atrocidades cometidas e ainda presentes, o realce cabe ao revestimento da pedra lioz, com que foram aparelhadas as colunas que dividem as naves, por gesso com pintura imitando mármore nos fustes, alargado aos arcos que nelas se apoiam. Já em 1895, empoleiram-lhe o actual corpo de relógio, com ele acentuando-se a desmedida da altura da torre sineira. O epílogo chegou-lhe com a destruição – precedendo a visita régia de Julho de 1901 – do adro, com suas nove dependências abobadadas, em troca da anódina escadaria que actualmente se apresenta. Este acto foi de par com a demolição dos açougues quinhentistas ritmados de arcada, com platibanda, que cerrava a Praça desde as Portas da Cidade, quando elas cumpriam a função de entrada a quem desembarcava no chamado cais da terra.