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domingo, 15 de setembro de 2013

Ermida de N.Senhora dos Anjos (Vila do Porto-S. Maria)



Embora não se saiba positivamente a invocação e nem o local do primeiro templo levantado em Santa Maria pelos primeiros colonizadores, o estudo da difusão do povoamento nas primeiras décadas e a comparação com as primeiras narrativas sobre esse povoamento, permitem aceitar que a Ermida dos Anjos tenha sido esse templo . Será, assim, a mais antiga da ilha e do arquipélago açoriano.

Erguida ainda em 1439, primitivamente em madeira com cobertura de palha, foi reerguida em alvenaria de pedra entre 1460 e 1474.

É referida no testamento do Infante D. Henrique: "Item ordenei e estabeleci (...) a igreja de santa Maria na ilha de santa Maria."

Nela terão cumprido o voto de ouvir missa em Acção de Graças, em 19 de Fevereiro de 1493 os marinheiros de Cristóvão Colombo no regresso da viagem de descobrimento da América.

Encontra-se indicada no "Mapa dos Açores" (Luís Teixeira, c. 1584) como "Perochia de S. Siria", e, em mapas posteriores nele baseados, a toponímia "Parochia de Santa Eria". Uma possível explicação ligará a devoção a Santa Iria, natural de Tomar, à Ordem de Cristo, que nessa cidade tinha a sua sede, chefiada pelo Infante D. Henrique com o título de "Regedor e Governador da Ordem de Cavalaria do Mestrado de Nosso Senhor Jesus Cristo". À Ordem pertencia também Gonçalo Velho Cabral, primeiro capitão do donatário.

A principal fonte sobre a ermida é um documento de autoria do padre Francisco da Cunha Prestes, licenciado no Curso Geral de Teologia na Universidade de Évora de 1650 a 1653,4vigário da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção de Vila do Porto, o manuscrito "Livro da Irmandade de Nossa Senhora dos Anjos e Escravos da Cadeinha" (1676) que pertencia ao arquivo da Matriz de Vila do Porto:
"Esta ermida de Nossa Senhora dos Anjos fundou hua m.er natural do Reyno por nome Izabel Glz. [Isabel Gonçalves] m.er de Thome Afonso natural do Algarve. Pediu este citio a D. Beatriz [Godin, primeira] m.er do [2º] Cap. Donatario [(João Soares de Albergaria)] a qual lhe deu tres alqueires de terra em q. se fundou a dita ermida por outros tres q. a dita Izabel Glz. lhe deu em sima da rocha os quais três alqueires em q. está a ermida deixou para o ermitão que a limpasse. O anno em q. foi feita esta fundação não se acha noticia certa por averem passado m.tos e porq. com a entrada dos mouros q. no anno de 1616 saquearão esta ilha levando muita gente cativa fiarão sepultadas as noticias q. disto podia aver. Sabe-se q. escapou esta ermida dos mouros e he tradição certa q. a não virão andando perto dela como também se presume q. a não virã o anno de 1675, pois entrando de assalto neste citio por descuido dos guardas a noute do pr.º de Setembro levando destas casinhas vesinhas da ermida onze pessoas entre molheres e meninos e juntamente saqueando as não tocarão na ermida q. se por tal a conhesserão ao menos não escapava de ser saqueada e se presumirão ser caza de moradores pr.º avião fazer entrada nela que nos palheiros de onde tirarão a gente e sua pobreza. Esteve esta ermida sem forma de adro até o anno de 1674 dentro nela não avia mais q. hum retabolo antígo q. se fechava com duas portas, estando e costado na parede e chegava a pregar na tacanissa o qual agora está ensserido no meio do retabolo."

A referida Dona Beatriz (Brites) Godin faleceu por volta de 1492-1493, época em que se encontrava com o marido no Continente, e em que Cristóvão Colombo enviou os seus marinheiros a terra para assistir missa em Fevereiro de 1493.

O pesquisador Miguel Corte-Real levanta a dúvida se Tomé Afonso e sua esposa Isabel Gonçalves seriam ou não os primitivos fundadores, se apenas reedificadores, ou mesmo apenas padroeiros mais modernos da ermida.7 Conforme a sua pesquisa, de acordo com um documento na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, no espólio Velho Arruda, é referido um Tomé Afonso, casado com Isabel Gonçalves, que, por volta de 1560 deixaram ambos parte de seus bens para a conservação da ermida.

Quando do assalto de piratas da Barbária em 1616, que se demoraram oito dias na ilha e dela levaram 222 pessoas, as suas reduzidas dimensões e despojamento terão feito com que passasse despercebida, fato que Frei Agostinho de Monte Alverne, em fins do século XVII, credita a um milagre da Virgem:
"(...) e somente não chegaram à Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, andando por cima de sua ladeira, sendo vistos das pessoas que dentro estavam, o que se crê que quis a bendita Senhora não vissem a sua igreja. (...)."

Foi reconstruída, com nova traça, de 1673-1674 a 1676. Em maio de 1675 procedeu-se à abertura do "caminho que vai pela rocha acima e o fizeram por sua devoção os devotos da Senhora pela dificuldade que havia para poderem descer à ermida" e que "em Setembro do mesmo ano se faz o calvário ou cruzeiro que está no cimo da rocha", junto ao Caminho Velho . A iniciativa da reconstrução deve-se a Frei Gonçalo de São José, que veio para o Convento de Nossa Senhora da Vitória em 1668-1669, sendo o principal obreiro da Irmandade dos Escravos da Cadeinha, confirmada em 1675 pelo Bispo de Angra, D. Frei Lourenço de Castro. Esta criação, em carácter devotivo, terá tido lugar após o ataque dos piratas de 1675.
Em 1826 era seu padroeiro o morgado Luís de Figueiredo Velho Melo Falcão. Ao final do século XIX sofreu obras que a restauraram (1893), conferindo-lhe a actual feição.

Júlio Cabral testemunha ter visto nesta ermida um missal "(...) velho mas bem conservado, que também se diz ser o mais antigo dos Açores (...)", mas cujo paradeiro, à época (1903), desconhecia. Do mesmo modo, com relação ao chicote com que os piratas terão fustigado os habitantes, o mesmo autor refere: "que existiu junto da Sacra, onde o vi, mas há anos desapareceu, supondo-se que foi destruído pelos devotos!"
Encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público pela Resolução nº 58, de 17 de maio de 2001.

A festa da padroeira ocorre, anualmente, a 21 de Agosto.